ouça: Drew

Goldfrapp é um projeto eletrônico meio underground, mas que tem um certo sucesso crítico e é bem sucedido popularmente, mesmo que ligeiramente associado com música alternativa. Alison Goldfrapp já assumiu muitas personas nesses quase dez anos de carreira como líder do projeto Goldfrapp, e agora ela chega a um ponto mais intimista e trabalhado, com menos arrojo e letras mais lúdicas que soam e reverberam de modo impressionantemente realista.

Delicado e peculiar, o disco completa um ciclo estranho de construção musical ao usar sons naturais nas entre-faixas, já começando com faixas desorganizadas intencionalmente mostrando a habilidade de criar algo climático e rústico musicalmente que tem Alison. Mesmo com essa genialidade instrumental a sofisticação do trabalho se perde em vielas sombrias onde se encontram os sons mais arrojados e menos cuidadosos.

Com os inúmeros deslizes o disco começa a se tornar monótono e a ter um padrão musical muito chato em que a voz é intercalada com violões e instrumentos acústicos, sendo que todo o ritmo é marcado por pequenas interferências eletrônicas que tecem um registro insólito e muito irritante do ponto de vista estrutural. Com muitos erros ainda se destacam faixas como Laurel que ainda conseguem mostrar o real potencial da artista.

Ainda que o disco pareça bom no começo, o fato de ouvido mais de uma vez tira o encanto e a delicadeza de um disco muito lúdico e muito tranquilo que, mesmo carregado de uma estética expressionista, não começa assunto nenhum e não termina assunto algum. É quase uma tortura a falta de precisão que houve no disco, intencional ou não, irritante…

nota: 5.0

ouça: Tether / Gun

Churches ou o estilizado CHVRCHΞS é uma banda estreante desse ano. Uma das grandes promessas desde o lançamento de Recover EP em março. Mas agora com a realização de um disco a construção do estilo psicodélico e colorido da banda se concretiza em algo mais delicado e simples que o esperado. Surpreendendo pela simplista e simpática sonoridade eletronicamente colorida e muito agradável.

As faixas que povoam o disco remetem a um movimento que começa a crescer hoje em dia, uma cena que está ganhando notoriedade. O R&B levemente psicodélico que trouxe a tona criaturas como AlunaGeorge e Autre Ne Veut. Mas CHVRCHΞS se particulariza por trazer um eletrônico mais curado e coeso, que faz a megalomania do R&B se tornar um elemento incomum, fazendo com o que a sonoridade do disco seja simples, mas muito cuidadosa, mostrado o capricho com o instrumentalismo do registro.

Com muitos elementos de outros movimentos eletrônicos, o CHVRCHΞS se tornaria insignificante, a não ser que fosse a ligeira mas genial perfeição musical ao criar um disco que une o eletrônico batido e forte com vocais delicados e adocicados, criando assim um contraste cada vez mas impressionante e bonito. Em faixas como Night Sky isso se maquia, mas em faixas como Science/Visions isso é muito óbvio. E mesmo que no disco não hajam faixas ruins, o mesmo peca ao unir de forma lúdica os sons mais contrastantes a formar um tecido multicolorido, como ocorre em muitos momentos, mas em pequenos descuidos isso é elevado ao extremo e ocorre um exagero que pesa a faixa, destoando do resto do disco.

No contexto, as faixas conversam muito bem, com uma sonoridade muito parecida que dá uma homogeneidade ao disco, uma coisa muito importante nesses dias multi-referenciais. Mas ao longo do disco o mesmo chega a perder a linha, mas nunca se tornando algo ruim ou desagradável, mesmo que exagerado as vezes. Erros muito dignos de uma estreia.

nota: 8.5 

ouça: Do I Wanna Know? / Arabella

A banda britânica de rock indie e levemente influenciado pelas guitarras dos anos 60 traz a tona agora um novo registro discográfico. O quinto da tão cultuada discografia da banda, que mesmo tendo se tornado uma piada no último disco “Suck It And See“, prova de forma eficiente que agora é o momento em que a banda mostra a realização completa de seu potencial.

Com uma estrutura muito simples de música que unem desde sintetizadores marcando uma linha mais tênue entre o rock vintage, já explorado timidamente pela banda e o moderno indie rock que deu fama a essa banda no meio da década passada. Mas com um gosto muito mais apurado o disco começa a se destacar de forma inteligente e mostra que usar formas e estruturas musicais antigas pode ser muito bem colocado, assim a banda forma faixas divertidas mas que lucidam uma genialidade incomum em criar música.

Em contraponto é verificada uma certa monotonia no disco, em que as bases de guitarra e as baterias fortes começam a ser muito parecidas, o que pode ser encarado de duas formas, um descuido na concepção do instrumentalismo do disco, ou um descuido na hora de acertar a ordem das faixas no disco. Mas mesmo que tenha seus erros o disco é eficiente no que deseja mostrar, o disco é fiel a sua proposta.

E mesmo com esses defeitos o disco não peca ao incluir faixas calmas como No. 1 Party Anthem ou criações divertidas que mostram a descontração simplória que povoa a mente dos integrantes da banda como Why’d You Only Call Me When You’re High?. O disco ainda tem muitos trunfos e muitas formas alternativas de se misturar piano com guitarra sem que isso pareça glam rock.

AM é provavelmente o melhor disco da carreira da quase recente banda até agora, com muito cuidado usaram elementos do blues e do punk, mas conseguiram criar algo que transcendesse as duas inspirações. Faixas completas e eficientes enchem um dos melhores discos do ano até agora. E mesmo que contraditório, o disco tem uma inovação muito grande mostrando do que a banda sempre capaz de fazer, mas por, sei lá, falta de atenção nunca fez.

nota: 9.0

O artista Andrew Salgado é um grande retratista que usa esse estilo semi geométrico de criar retratos, nos últimos meses expõe Le Petit Mort Gallerie e está lançando solo o trabalho The Acquaintance na galeria de arte de Regina. Suas ilustrações retratistas em larga escala são impressionantes, é um trabalho que expressa os sentimentos do artistas, expressionista