[Até que enfim algo mais nessa porra desse blog] Hoje é o primeiro dia do ano, e por isso, será também o dia do primeiro post da série hoje inaugurada e cunhada “Opera”, simples assim, um post de um texto simples e não muito comprido sobre alguma ópera, um autor de opera, ou mesmo um(a) intérprete, geralmente algo bem famoso e referenciado. Como no caso de hoje, talvez a minha opera favorita, “Madama Butterfly”. Por quê escrever sobre algo tão erudito quanto opera, por que sim, e por que é um assunto não muito comum, mas que é muito importante para a formação de muitas das idéias de espetáculo e de música até hoje.

Para começar, a palavra “Opera” significa obra, relativo portanto a uma obra de arte. O foco frequente ao usar essa palavra é a Opera Lírica, uma peça teatral, de origem romântica que se relaciona com fatos muito trágicos e cômicos. A ópera surgiu na época de autores como Hugo e Shakespeare, só que na Itália. Portanto tem como característica um excêntrico drama, as vezes exagerado, embalado por uma história que envolve muitos conflitos amorosos e mortes inesperadas.

Madama Butterfly é talvez uma das composições mais contemporâneas, sendo que estreou em 1904, e foi a última realmente significativa obra do quase contemporâneo Giacomo Puccini. Autor de muitas das obras que seguirão os próximos posts dessa linha. Conhecido por conseguir falar com o povo, suas obras eram populares, nada comparado a Bellini ou Bizet; Tal autor compôs essa obra ainda jovem, e nela, uma previsão foi feita, nela, há um contato muito segregado entre duas pessoas, cada uma representando um hemisfério, tanto físico quanto cultural.

De um lado Cio-Cio San uma gueixa, cujo significado do nome era Borboleta (butterfly), do outro B. F. Pinkerton, um oficial da marinha que ia à isolada ilhota, que era um lugar muito isolado no tempo em que ocorre a história (1870), época em que os EUA mandavam oficiais para reconhecimento do Japão, lá tais americanos tinham um temporário relacionamento com nipponicas, muito frequentemente gueixas. A história é inspirada na realidade e mostra quão horríveis são as consequências de se conceber um matrimônio leviano.

A borboleta se apaixona por tal homem americano, e com ele tem um filho e declara seu amor através de uma canção. Tudo é belo por alguns minutos, há até um dueto de amor com os dois em cena. Após isso, o yankee volta aos States e assim o drama exageradamente dosado começa e o sofrimento da coitada japonesa aumenta a medida que o tempo passa, nesse momento, a musica mais icônica (Un bel di Vedremo) de toda a montagem é cantada de forma esplendidamente triste e com muita dor. E é visto o coração Cio-Cio San se quebrar, quando após tres anos não há noticia alguma do marinheiro. Quando um dia, surpreendentemente chega a carta de seu amado lhe dizendo que ele se casou com uma americana.

A partir daí tudo se torna uma sequência shakespeariana de propostas não aceitas de casamento, zombarias com a pobre borboleta da montanha, e diz aos prantos que sem ele não seria mais gueixa ou pior, se mataria. Quando a irmã dela bruscamente vê que chega ao porto, um navio, e é o navio de Pinkerton, tudo parece estar ficando belo de novo, tudo começa a ser mais esperançoso, e nessa hora acontece o dueto das flores, outra aria muito icônica desse espetáculo.

Aqui, nesse pequeno desejo de esperança acaba a prima versão dessa obra. Mas Puccini havia composto um ato a mais, o terceiro ato, que é posto na versão definitiva da Opera alguns anos depois, em montagens já fora da Itália (na França e na Alemanha). O terceiro ato começa quando a borboleta cai ao sono de tanto esperar seu amado, que chega trazendo sua mulher, quem atende a porta é a irma de Cio-Cio San, Butterfly acorda, vê um casal americano, Pinkerton e uma mulher estranha, sua esposa. Butterfly percebe, e começa de novo, a chorar, nesse meio tempo lhe é dada a notícia de que o filho que o yankee teve com a nipponica é o motivo da viagem, o filho será levado aos EUA. Butterfly sofre de desgosto, se afasta para pegar o bebê, mas se desvia a um baú onde pega um punhal, e em uma cena rápida, o introduz em seu ventre de forma violenta. Morrendo de desgosto pelo amor não correspondido.

Esta foi a última grande escala de Puccini, mesmo que ainda haja Turandot em sua carreira. Madama butterfly é provavelmente a obra mais contemporânea de todo o erucismo pós romântico que embalou o autor. É interessante ver que o choque entre a bela inocência oriental se confrontando com a indiferença irritante do ocidente. Mostrando como o choque cultural é tremendamente explosivo em certas circunstâncias. Essa foi a obra que alavancou a carreira de Maria Callas, pois tecnicamente, é muito difícil de ser cantada, e Maria o fez de firma incrível. Até hoje, a interpretação de Callas para essa obra é uma referência para o teatro e a atuação musical em geral.  

O lago Natron, no nordeste da Tanzania é um dos ambientes mais extremos do planeta. Com temperaturas que supera 50º, e um pH maior que 9, o lago é quase tão alcalino quanto amônia. E no meio desse lugar caótico, o fotógrafo Nick Brandt parou ao lado do lago e descobriu estátuas naturais de animais. Imagens muito bonitas saíram da descoberta do fotógrafo, mas mesmo sendo bonitas, tem um fundo grotesco que o embeleza ainda mais… vai entender.